Assim nasceu o Curso de Vela, conhecido posteriormente como CIP-YCP (atual Escola de Vela Joerg Bruder). Miriam São Thiago foi diretora de vela do YCP na década de 70, responsável pela criação do Curso de Vela para Crianças.
O YCP divulga neste momento o depoimento inédito da Miriam – que mora em nossos corações – como agradecimento pela sua valiosa dedicação para a Vela e para o Clube!
Olá, Velejadores e Amigos do YCP!
Meu marido era sócio do YCP desde 1956. Eu virei sócia em 1968 quando me casei. “Entrei ” na vela em 1973 e em 1974 fui diretora de vela pequena (Optimist e Pinguim).
Em 1975 passei a ser diretora de vela no clube, e comecei a ter contato com todos os velejadores.
Hoje gostaria de contar a vocês como a vela infantil começou no YCP.
Tudo começou com uma Provocação, 3 Velejadores e 3 Optimists.
Breve História do Optimist no Brasil
O Optimist foi introduzido no Brasil em 1972 por Jöerg Bruder (velejador da Classe Finn do Yacht Club Paulista, falecido em 1973 em trágico acidente de avião) e Sibylle Sulzbeck do Yacht Club Santo Amaro. A Classe rapidamente se expandiu, e em 1980 estavam registrados 1.150 barcos de Fortaleza a Porto Alegre. Fonte: An extract from The Optimist Dinghy 1947-2007 (pág. 16) Robert Wilkes (Colaboração de Georgia Bruder)
O sócio velejador do Yacht Club Paulista, Jöerg Bruder (novembro de 1937 – julho de 1973), foi campeão Panamericano nos Jogos Pan-Americanos de 1967 (Winnipeg) e 1971 (Cáli), tornou-se tri-campeão do mundo: 1970 (Cascais), 1971 (Toronto) e 1972 (Anzio). Ele é o único brasileiro no Hall da Fama da Classe Finn ao lado de nomes como Paul Elvstrøm, Ben Ainslie e o próprio projetista da classe FINN, Rickard Sarby. (Colaboração de Georgia Bruder e Alberto Hackerott)
Optimist no YCP
Num final de tarde de mais ou menos agosto/setembro de 1973 na sede do YCP, a sócia Ana Maria Smith Vasconcelos comentou que havia comprado para os filhos Reynaldo e Marcelo dois barcos da Classe Optimist, mas eles não estavam animados, (e para piorar, o pai era lancheiro)!
Neste momento, o Steen Frisch, Comodoro do YCP, passou pelo grupo e eu falei: “Steen, o YCP tem que dar uma força para os meninos e fazer um curso de vela no clube”, e ele me respondeu taxativo: “Se você quer um curso de vela, então faça!”
Em 1973 tínhamos dois barcos da classe Optimist (Reynaldo e Marcelo Smith Vasconcelos) e três velejadores do YCP que se disponibilizaram para ajudar na formação do curso de vela: Eduardo Souza Ramos (Snipe), Dino Pascolato (Snipe) e Antonio Figueiredo (Finn). O YCP era essencialmente ligado à motonáutica, ao esqui e também à Vela.
Para se ter uma ideia, já naquela época a Flotilha 311 de snipe reunia mais de 10 velejadores ativos, e além do Eduardo e do Dino tinha o Frederico Hackerott, o Roberto Camps), o Henrique Andrade, o Toninho Carvalho, o Martin (inglês) e mais uns 4 ou 5 barcos. Tinha também o 5mRI “Fri” do Werner Hackerott, que foi hexa campeão paulista representando o YCP contra 2 veleiros do YCSA “Greif” e “Dragão” , 2 do CCSP “Hansa” e “Marajó” e 2 do CCC “ Vinga” e “Jetusa”. Além disso, no início dos anos 70 o YCP tinha velejadores ativos nas classes Finn, Pinguim, Star, Lightning e Soling.
O clube também organizava a tradicionalíssima “Regata em Homenagem aos Campeões”, que sempre foi importante para o YCP. Também fazia regatas de flotilha para as classes ativas na represa, inclusive a Taça Flotilha 311 da classe Snipe, além de Campeonatos Paulistas e alguns Interestaduais..
O Curso de Vela
Era preciso investir na Vela Jovem no YCP!
A notícia do curso se espalhou e surgiram vários sócios do YCP interessados.
Eu estava numa “sinuca de bico”! Se por um lado, nunca fugi de uma provocação, por outro, eu era lancheira (esqui aquático)! Minha experiência em barcos a vela se resumia a passeios num 40 pés de oceano (Flamingo)……mas eu não iria desistir de modo algum, desistir é palavra que não existe no meu dicionário!!!
O quê e como fazer?
Meu enteado estava na escolinha de vela do Iate Clube do Rio de Janeiro; nos mandamos para o Rio, falei com a Lúcia de Souza Campos, Capitã da Flotilha de Optimist e Secretária Nacional da Classe, que me apresentou para o pessoal da escolinha, (o ICRJ tinha 15 Optimists); e me senti pobre! Tínhamos apenas 2 (de sócios). Eles (ICRJ) foram fantásticos, e me deram a apostila na qual, com a autorização dos autores (para não incorrer no crime de plágio) e orientação de amigos velejadores, demos uma modificada.
Voltamos para São Paulo e descobri que tínhamos mais um Optimist (Borbinha)…mas não dava nem para começar: 35 inscritos do YCP e 3 Optimists.
Senti a maior frustração, alguns amigos e meu marido me aconselharam a desistir, mas eu não ia dar o braço a torcer. Nestas horas difíceis é que se descobre como os amigos são importantes!!
Conversando com a Vera e Fernando Melchert, eles contaram que no YCSA algumas crianças tinham barco e que eventualmente estariam interessadas em participar do curso no YCP. Marcaram uma reunião no apartamento deles com os pais, e fiz uma explanação do que seria o curso, mostrei a apostila e começou o questionamento:
- Você veleja? “Não” só estou organizando.
- Você não é muito jovem? (Preocupação mais idiota). Sou, mas já fui chefe escoteira e lido muito bem com crianças.
- Quem vai dar as aulas? – pensei “Vou conversar com o Eduardo Souza Ramos e com Antonio Figueiredo para ver se eles podem ajudar; acredito que eles não se negarão; a aula de “como atar nós” eu posso dar (fui escoteira) mas, como o curso tem oito aulas, preciso de mais cinco velejadores experientes para assumirem as demais.”
Depois de pacientemente ouvir os pais (todos do YCSA) e após sentir o entusiasmo deles, eu “dei um passa moleque”:
- O curso será aberto para todos os clubes da represa. Como? Não é só para sócios do YCP e do YCSA?
- Só participarão as crianças que emprestarem seus barcos para os que não tem barco (ou seja, para nós do YCP) esta era uma condição sine qua non, e não estava aberta a discussão. Caberia aos pais explicarem aos filhos que faz parte da vida em sociedade e do esporte, dividir, compartilhar e emprestar. Aí a barra pesou e, a reunião esquentou.
- Após muita polêmica: empresta, não empresta, ganhou o empresta, foi tudo acertado e o curso marcado para a semana antes do Natal.
Mas, os problemas não terminavam aí. Na ocasião, o YCP tinha um barquinho (tuk,tuk,tuk) que servia de salvatagem, onde colocavam um mastro para juria, umas poucas bandeiras de sinalização e três cones que serviam de boias.
Com 104 inscritos no curso, lá fui eu novamente conversar com o Steen, e cantar para que comprasse uma lancha decente para juria. Sobre a salvatagem ele não precisaria se preocupar, meus amigos lancheiros a fariam. O Steen caiu na cantada e comprou a lancha “Zorba”.
Assim, como no milagre da multiplicação de 3 Optimists passamos para 30 (!!!) e o Clube ganhou uma lancha bárbara para a juria; mas, tem sempre um “porém” para atrapalhar nossos planos: ainda faltavam pelo menos cinco barcos para a Regata Final do curso, e os resultados finais seriam distribuídos em 3 categorias (mirim, infantil e juvenil). Convenci meu marido a comprar dois barcos para meus enteados e, autorizei o Barão Von Schaaffhausen expor e vender durante o curso os Optimists e Catamarans que ele fabricava, desde que cedesse os três barcos que faltavam! Nem foi necessário, os Machado de Almeida do CCSP e Marina Bandeira Klink do Castelo se inscreveram e trouxeram seus barcos.
O nascimento da Vela Jovem no YCP, foi um filho virtuoso e viril, com muitos pais: Steen Frisch, Batita (João Baptista São Thiago), Eduardo Souza Ramos, Antonio Figueiredo, Vera e Fernando Melchert, Vera e Wanderley, Robert Buckup, Maria Helena Andersen e Edna Lessa da Fonseca, os monitores Dick Andersen, Ib Andersen, Fernanda Monteiro de Barros, Maria Cristina Andersen, Helena São Thiago e o Arigó (recreação), sem os quais o curso não teria êxito.
No encerramento do curso, surpresa… a Rede Globo compareceu, gravou as regatas e exibiu no Fantástico. Eu havia conseguido!!
O Curso de 1974 foi tranquilo, tivemos 95 inscritos! Como tínhamos uma flotilha com 35 Optimists, nossos velejadores emprestaram os barcos, e participaram como monitores. Neste curso resolvi que iriamos acantonar (dormir) no Clube, pois a experiência de 1973 havia me ensinado que alugar ônibus e marcar horário na Faria Lima só dava problema. Neste ano, novamente contamos com os “santos” Eduardo Souza Ramos, Antonio Figueiredo e Erasmo Assumpção, além de outros amigos velejadores de outros clubes que deram as aulas.
Na comodoria do Gilberto Nascimento foi comprada a “Safo” para juria do III Brasileiro de Optimist (1975), e já havíamos providenciado as boias infláveis (foi o primeiro clube da represa que as teve) e um jogo completo de bandeiras; era o Clube melhor aparelhado para juria, tanto que o 1º Brasileiro de Soling foi patrocinado pelo nosso Clube em parceria com a Marlboro que doou o guincho para colocar barcos na água e, também patrocinamos o I Brasileiro de 420.
Em 1979 voltamos a brilhar, pois o Eduardo Souza Ramos venceu o Campeonato Europeu da Classe Soling, o que não tem nada a ver com Optimist, mas o Clube tornou-se novamente referência em Vela (Colaboração de Eduardo Souza Ramos)
Graças à provocação do Steen e à minha teimosia, de 1973 até hoje o Clube fez e faz vários outros cursos para a Classe Optimist, promove regatas importantes como a COPA YACHT CLUB PAULISTA (atual COPA VELA YCP), campeonatos nacionais e estaduais e conta com velejadores do porte de Bruno Prada, Jorge Zarif, Henri Boening, Alessandro Pascolato e Eduardo Souza Ramos (os bons filhos à casa tornam) e outros que não são da minha época, aos quais peço desculpas por não os citar nominalmente.
Depois de 7 cursos passei a bola para frente e a Marie Helene Andersen comandou o curso de 1980, a Margot (Johnny) Prada também comandou vários cursos criando o legado que hoje observamos nas raias da Guarapiranga!!
Hoje o YCP conta com uma lista significativa de apaixonados pela vela: (colaboração de Alberto Hackerott)
Optimist: Enrico Berna, Marino Acayaba, Philip Hofmeister, Alexia Woodyatt, Valentina Mantesso, Theo Mantesso, Luca Mantesso, Martina Cadier.
Dingue: Dick e Rodrigo Andersen, Fabio Bruggioni, Luca Bruggioni, Charles Daniel, Douglas Lemal, Breno Bogoni, Bruno Marinho, Giovana Dalo, Aline, e muitos outros alunos da Dick Sail;
Laser: Fernando Hackerott, Maria Hackerott, José Hackerott, Albert Lisbona, Marcelo Scuarcialupi, Lucas Bueno, Rodrigo Vasconcelos;
Snipe: Alberto Hackerott, Arthur Santacreu, Frederico Hackerott , Alonso Lopez, César Seabra, Wallace Waba, Paola Prada, Leonardo Lorenzi, Eloah Hackerott, Izabela Santacreu, Sandra Hackerott, Éric van Deursen, Leonardo Prioli Gabriel Chorociejus, Jonas Chorociejus, Gisele Chorociejus, Luis Antônio Pinto, Suzi Arnone; Max Meirelles, Simone Meirelles, Bruno Benelli, Adriana Benelli, Richard Andersen, Rodrigo Andersen, Marcos Villasboas, Mariana Villasboas, Giovanna Prada, Luis Borba. Mário Mugnaini.
Microtonner: Albert Lisbona, Rafael Federici, José Augusto Pereira, Francisco Pereira Rodrigo Gomensoro, Ricardo Gobbi, Renata Acayaba
Day Sailer: Leandro Guerra, Renata Iudicibus, Edney Fernandes, Felipe Fernandes.
Finn: Jorge Zarif, Bruno Prada, Ricardo Valerio, Paulo Pichetti, Robert Rittscher, Cristiano Ruschmann, Mauricio Bueno
Tornado: Tomas Hofmeister, Sergio Assumpcao
Nacra 20: Lorenzo Berna e Lara Berna
Star: Bruno Prada, Jorginho Zarif, Ricardo Valerio, Cristiano Ruschmann, Fábio Bruggioni, Marcelo Sansone, Patrick Woodyatt, Dino Pascollato, Henry Boening, Mauricio Bueno, Marcelo Bellotti, Fábio Prada, Robert Rittscher, Charle Rittscher
HPE 25: Eduardo de Souza Ramos, Felipe Furquim, Marcelo Bellotti, Sergio Rocha, Alex Kienitz, Fábio Foccia, Dudu Almeida, Leonardo Prioli, Gabriel Chorociejus, Maurício Bueno, Juan de la Fuente.
Conta ainda com o projeto social para inclusão de jovens de baixa renda no esporte, junto da escola de vela Dick Sail, sob o comando do Dick Andersen e os maravilhosos instrutores de vela infantil que levam nosso legado adiante: Charles Bennett e Maria Hackerott, esta última medalhista pan americana em 2015!!
Uma Provocação, 3 Optimists e 3 Velejadores…
Bons Ventos a Todos!
Agradeço aos colaboradores: Alberto Hackerott, Geogia Bruder e Eduardo Souza Ramos